Sobre Medita��o

"... Aquilo que "inspeciona" os v�rios elementos que surgem durante a medita��o � 'sati', aten��o plena… Sati � vida… Quando n�o temos sati, quando somos descuidados, � como se estiv�ssemos mortos… Sati � simplesmente a mente atenta… � a causa do surgimento do auto-conhecimento e da sabedoria…Mesmo quando n�o nos encontramos mais em samadhi, sati deveria estar sempre presente…"

Acalmar a mente significa encontrar o equil�brio correto. Se voc� tentar for�ar a sua mente em demasia ela ir� longe demais, se voc� n�o se esfor�ar o suficiente ela n�o ir� chegar l�, ela perde o ponto de equil�brio.

Normalmente a mente n�o est� tranq�ila, ela est� se movendo o tempo todo, lhe falta for�a. Fortalecer a mente e fortalecer o corpo n�o � a mesma coisa. Para fortalecer o corpo necessitamos exercit�-lo mas para fortalecer a mente significa fazer com que ela fique em paz, que n�o fique pensando acerca disto ou daquilo. Para a maioria das pessoas a mente nunca esteve em paz, ela nunca teve a energia de samadhi, [1 ] por isso, devemos coloc�-la dentro de limites. Sentamos em medita��o, permanecendo com Aquele que sabe.

Se for�amos a nossa respira��o para que seja muito longa ou muito curta, n�o estaremos em equil�brio, a mente n�o ficar� em paz. � o mesmo quando usamos uma m�quina de costura com pedal pela primeira vez. Inicialmente praticamos somente com o pedal, de forma a ajustar nossa coordena��o, antes que costuremos alguma coisa. Acompanhar a respira��o � parecido. N�s n�o nos preocupamos se ela � longa ou curta, fraca ou forte, n�s somente a observamos. Deixamos que seja como deve ser e acompanhamos a respira��o natural.

Quando ela estiver equilibrada, tomamos a respira��o como nosso objeto de medita��o. Quando inspiramos, o come�o da respira��o est� na ponta do nariz, o meio da respira��o est� no peito e o final da respira��o est� no abd�men. Esse � o caminho da respira��o. Quando expiramos, o in�cio da respira��o est� no abd�men, o meio no peito e o final na ponta do nariz. Simplesmente observamos o caminho da respira��o na ponta do nariz, no peito e no abd�men e depois no abd�men, no peito e na ponta do nariz. Notamos esses tr�s pontos de forma a fazer com que a mente fique est�vel, para conter a atividade mental de tal forma que a aten��o plena e a autoconsci�ncia possam surgir com facilidade.

Quando formos capazes de notar esses tr�s pontos poderemos solt�-los e notar a inspira��o e a expira��o, concentrando exclusivamente na ponta do nariz ou no l�bio superior, onde o ar toca quando entra e sai. N�s n�o precisamos seguir a respira��o, simplesmente estabelecemos a aten��o plena � nossa frente, na ponta do nariz e notamos a respira��o nesse �nico ponto - entrando, saindo, entrando, saindo. N�o h� necessidade de pensar acerca de algo especial, agora, concentre-se nessa simples tarefa, mantendo continuamente a mente atenta. N�o h� nada mais a ser feito, somente inspirar e expirar.

Em pouco tempo a mente ficar� tranq�ila, a respira��o mais sutil. A mente e o corpo se tornam leves. Esse � o estado correto para a tarefa da medita��o.

Quando estamos sentados em medita��o a mente se torna refinada, mas em qualquer estado em que ela se encontre devemos tentar ter consci�ncia dele, conhec�-lo. A atividade mental est� ali junto com a tranq�ilidade. Existe vitakka. Vitakka � a a��o de trazer a mente para o tema da contempla��o. Se n�o existe muita aten��o plena, n�o haver� muito vitakka. Ent�o vicara, a contempla��o em torno daquele tema, segue. V�rias impress�es mentais "mais fracas" podem surgir de tempos em tempos mas a nossa autoconsci�ncia � o mais importante - n�o importa o que esteja acontecendo n�s temos conhecimento dela continuamente. � medida que nos aprofundamos estamos constantemente conscientes do estado em que se encontra a nossa medita��o, sabendo se a mente est� ou n�o firmemente estabelecida. Dessa forma, ambos, a concentra��o e a aten��o plena estar�o presentes.

Ter uma mente tranq�ila n�o quer dizer que nada est� acontecendo, as impress�es mentais continuam surgindo. Por exemplo, quando falamos sobre o primeiro n�vel de absor��o, dizemos que ele possui cinco fatores. Juntamente com vitakka e vicara, piti (�xtase) surge com o tema da contempla��o e depois sukha (felicidade). Essas quatro coisas est�o todas juntas na mente que se firmou na tranq�ilidade. Elas s�o como um estado �nico.

O quinto fator � ekaggata ou unifica��o da mente em um s� ponto. Voc� deve estar perguntando a si mesmo como pode haver a unifica��o quando tamb�m existem esses outros fatores. Isso ocorre porque eles ficam todos unificados com base na tranq�ilidade. Juntos eles s�o chamados de o estado de samadhi. Eles n�o s�o estados do cotidiano da mente, eles s�o fatores de absor��o. Existem essas cinco caracter�sticas mas elas n�o perturbam a tranq�ilidade b�sica. Existe vitakka, mas ela n�o perturba a mente; vicara, �xtase e felicidade surgem mas n�o perturbam a mente. Portanto, a mente e esses fatores est�o como se fossem uma coisa s�. Assim � o primeiro n�vel de absor��o.

N�s n�o precisamos cham�-lo de Primeiro Jhana, [2] Segundo Jhana, Terceiro Jhana e assim por diante, vamos cham�-lo simplesmente de ”uma mente tranq�ila". Conforme a mente vai progressivamente se acalmando, ela ir� dispensar vitakka e vicara, restando somente �xtase e felicidade. Porque a mente descarta vitakka e vicara? A raz�o � porque a mente vai se tornando mais refinada e a atividade de vitakka e vicara � muito grosseira para que possa permanecer. Neste est�gio, quando a mente abandona vitakka e vicara, sentimentos de intenso �xtase podem surgir, l�grimas podem aflorar. Mas conforme o samadhi se aprofunda, o �xtase tamb�m � descartado, ficando somente a felicidade e a unifica��o da mente em um s� ponto at� que finalmente, mesmo a felicidade se vai e a mente atinge o ponto mais elevado de refinamento. Existe apenas equanimidade e unifica��o da mente em um s� ponto, todo o demais foi deixado para tr�s. A mente permanece im�vel.

Uma vez que a mente esteja tranq�ila tudo isso pode acontecer. Voc� n�o precisa pensar muito a respeito disso, isso acontece por si mesmo. A isto se chama de a energia de uma mente tranq�ila. Nesse estado, a mente n�o est� sonolenta; os cinco obst�culos, desejo sensual, avers�o, inquieta��o, torpor e d�vida, foram todos embora.

Mas se a energia mental n�o for forte o suficiente e a aten��o plena for fraca, ocasionalmente surgir�o impress�es mentais intrusas. A mente est� tranq�ila mas � como se houvesse uma "n�voa" dentro dessa tranq�ilidade. N�o � um tipo de sonol�ncia comum no entanto, algumas impress�es ir�o se manifestar - talvez ou�amos um som ou vejamos um cachorro ou outra coisa. N�o est� absolutamente claro mas tamb�m n�o � um sonho. Isto ocorre porque os cinco fatores se tornaram desequilibrados e fracos.

A mente tem a tend�ncia de nos pregar pe�as nesses n�veis de tranq�ilidade. "Imagens" podem surgir certas vezes quando a mente est� nesse estado, atrav�s de qualquer um dos sentidos e o meditador poder� n�o ser capaz de identificar o que exatamente est� acontecendo. "Estou dormindo? N�o. � um sonho? N�o, n�o � um sonho…" Essas impress�es surgem a partir de um tipo de tranq�ilidade m�dia; mas se a mente estiver verdadeiramente tranq�ila e cristalina n�o teremos d�vidas acerca das v�rias impress�es mentais ou imagens que surgirem. Quest�es como, "Eu fiquei � deriva? Eu estava dormindo? Eu me perdi? " n�o surgem pois elas s�o a caracter�stica de uma mente que ainda duvida. "Estou dormindo ou acordado?"…Aqui est� confuso! Essa � a mente que est� ficando perdida nos seus humores. � como a lua se escondendo atr�s de uma nuvem. Voc� ainda pode ver a lua mas as nuvens que a cobrem fazem com que ela n�o possa ser vista com clareza. N�o � como a lua que surgiu por detr�s das nuvens - clara, bem definida e brilhante.

Quando a mente est� tranq�ila e com a aten��o plena firmemente estabelecida, n�o haver� d�vida em rela��o aos v�rios fen�menos que encontramos. A mente ter� verdadeiramente superado os obst�culos. Conheceremos com clareza, como na verdade �, tudo aquilo que surgir na mente. N�o teremos d�vida porque a mente est� clara e luminosa. A mente que alcan�a o samadhi � assim.

No entanto, algumas pessoas t�m dificuldade de entrar em samadhi porque este n�o conv�m �s suas inclina��es. O samadhi existe mas n�o � forte ou firme. Mas a pessoa pode alcan�ar a paz atrav�s da sabedoria, contemplando e vendo a verdade das coisas, solucionando os problemas por esse caminho. Isto � a utiliza��o da sabedoria ao inv�s do poder de samadhi. Para alcan�ar a tranq�ilidade na pr�tica, n�o � necess�rio sentar em medita��o. Somente pergunte a si mesmo, "Ei, o que � isso?…" e solucione o seu problema exatamente nesse momento! Assim � uma pessoa s�bia. Talvez ela realmente n�o consiga atingir n�veis elevados de samadhi, embora ela desenvolva algo, o suficiente para cultivar a sabedoria. � a diferen�a entre cultivar arroz e cultivar milho. A pessoa pode depender mais de arroz do que milho para o seu sustento. A nossa pr�tica pode ser assim, dependemos mais da sabedoria para solucionar os problemas. Quando vemos a verdade, a paz surge.

As duas formas n�o s�o iguais. Algumas pessoas possuem insight e s�lida sabedoria mas n�o possuem muito samadhi. Quando elas sentam para meditar elas n�o ficam muito tranquilas. Elas tendem a pensar muito, contemplando isso ou aquilo at� que finalmente elas contemplam a felicidade e o sofrimento e enxergam neles a verdade. Algumas se inclinam mais para isso do que samadhi. Quer seja em p�, caminhando, sentado ou deitado, [3] a ilumina��o do Dhamma poder� ocorrer. Vendo e abandonando, elas alcan�am a paz. Elas alcan�am a paz conhecendo a verdade sem ter qualquer d�vida, porque elas a viram por si mesmas.

Outras pessoas possuem somente pouca sabedoria mas o seu samadhi � bastante s�lido. Elas podem entrar em profundo samadhi rapidamente, mas n�o tendo muita sabedoria, elas n�o conseguem agarrar as suas impurezas, elas n�o as conhecem. Elas n�o conseguem resolver os seus problemas.

Mas independentemente da abordagem que usemos, precisamos eliminar a maneira incorreta de pensar, deixando ficar somente o Entendimento Correto. Precisamos eliminar a confus�o, deixando somente a paz. De ambas maneiras chegaremos ao mesmo lugar. Existem esses dois aspectos da pr�tica, mas essas duas coisas, tranq�ilidade e insight, caminham juntas. N�o podemos eliminar nenhuma delas. Elas precisam ir juntas.

Aquilo que "inspeciona" os v�rios fatores que surgem na medita��o � 'sati', aten��o plena. Sati � uma condi��o que, atrav�s da pr�tica, pode auxiliar outros fatores a surgirem. Sati � vida. Sempre que n�o tivermos sati, quando formos desatentos, � como se estiv�ssemos mortos. Se n�o temos sati, ent�o o que falamos e fazemos n�o possui nenhum significado. Sati � simplesmente recorda��o. � a causa do surgimento da autoconsci�ncia e sabedoria. Quaisquer virtudes que tenhamos cultivado ser�o imperfeitas se lhes faltar sati. Sati � o que nos observa quando estamos em p�, caminhando, sentados e deitados. Mesmo quando n�o estamos mais em samadhi, sati deveria estar sempre presente.

Tomamos cuidado com qualquer coisa que fa�amos. Uma sensa��o de vergonha [4] ir� surgir. Ficaremos envergonhados das coisas que fazemos e que n�o s�o corretas. Conforme a vergonha aumenta, o nosso auto controle tamb�m aumenta, quando o nosso autocontrole aumenta a desaten��o ir� desaparecer. Mesmo que n�o sentemos em medita��o, esses fatores estar�o presentes na mente.

E isto surge devido ao fato de cultivarmos sati. Desenvolva sati! Esse � o dhamma que inspeciona o trabalho que estamos fazendo ou que fizemos no passado. Ele tem utilidade. Devemos nos conhecer o tempo todo. Se nos conhecermos dessa forma, o certo ir� se distinguir do errado, o caminho ir� se tornar claro e o motivo para toda a vergonha ir� se dissolver. A sabedoria ir� surgir.

Podemos resumir toda a pr�tica em virtude, concentra��o e sabedoria. Ter autocontrole, isso � virtude. O firme estabelecimento da mente dentro desse controle � concentra��o. Para completar, o conhecimento amplo dentro da atividade na qual estamos engajados � sabedoria. A pr�tica, em resumo, � apenas virtude, concentra��o e sabedoria ou em outras palavras, o caminho. N�o existe outra alternativa.


Notas:

1. Samadhi � o estado de tranq�ilidade com concentra��o que resulta da pr�tica de medita��o. [Retorna]

2. Jhana � um estado avan�ado de concentra��o ou samadhi, em que a mente fica absorvida pelo seu objeto de medita��o. Ele est� dividido em quatro n�veis, cada um progressivamente mais refinado que os anteriores. [Retorna]

3. Isto �, todo o tempo, em todas atividades. [ Retorna]

4. Esta � uma "vergonha" que tem como base o conhecimento da lei de causa e efeito, ao inv�s do mero sentimento de culpa. [ Retorna]



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