The Teachings of Ajahn Chah
A collection of Ajahn Chah's translated Dhamma talks
Normalmente a
mente n�o est� tranq�ila, ela est� se movendo o tempo todo, lhe falta for�a.
Fortalecer a mente e fortalecer o corpo n�o � a mesma coisa. Para fortalecer o
corpo necessitamos exercit�-lo mas para fortalecer a mente significa fazer com
que ela fique em paz, que n�o fique pensando acerca disto ou daquilo. Para a
maioria das pessoas a mente nunca esteve em paz, ela nunca teve a energia de samadhi, [1
] por
isso, devemos coloc�-la dentro de limites. Sentamos em medita��o, permanecendo
com Aquele que sabe.
Se for�amos a
nossa respira��o para que seja muito longa ou muito curta, n�o estaremos em
equil�brio, a mente n�o ficar� em paz. � o mesmo quando usamos uma m�quina de
costura com pedal pela primeira vez. Inicialmente praticamos somente com o
pedal, de forma a ajustar nossa coordena��o, antes que costuremos alguma coisa.
Acompanhar a respira��o � parecido. N�s n�o nos preocupamos se ela � longa ou
curta, fraca ou forte, n�s somente a observamos. Deixamos que seja como deve
ser e acompanhamos a respira��o natural.
Quando ela
estiver equilibrada, tomamos a respira��o como nosso objeto de medita��o.
Quando inspiramos, o come�o da respira��o est� na ponta do nariz, o meio da
respira��o est� no peito e o final da respira��o est� no abd�men. Esse � o
caminho da respira��o. Quando expiramos, o in�cio da respira��o est� no
abd�men, o meio no peito e o final na ponta do nariz. Simplesmente observamos o
caminho da respira��o na ponta do nariz, no peito e no abd�men e depois no
abd�men, no peito e na ponta do nariz. Notamos esses tr�s pontos de forma a
fazer com que a mente fique est�vel, para conter a atividade mental de tal
forma que a aten��o plena e a autoconsci�ncia possam surgir com facilidade.
Quando formos
capazes de notar esses tr�s pontos poderemos solt�-los e notar a inspira��o e a
expira��o, concentrando exclusivamente na ponta do nariz ou no l�bio superior,
onde o ar toca quando entra e sai. N�s n�o precisamos seguir a respira��o,
simplesmente estabelecemos a aten��o plena � nossa frente, na ponta do nariz e
notamos a respira��o nesse �nico ponto - entrando, saindo, entrando, saindo.
N�o h� necessidade de pensar acerca de algo especial, agora, concentre-se nessa
simples tarefa, mantendo continuamente a mente atenta. N�o h� nada mais a ser
feito, somente inspirar e expirar.
Em pouco tempo a
mente ficar� tranq�ila, a respira��o mais sutil. A mente e o corpo se tornam
leves. Esse � o estado correto para a tarefa da medita��o.
Quando estamos
sentados em medita��o a mente se torna refinada, mas em qualquer estado em que
ela se encontre devemos tentar ter consci�ncia dele, conhec�-lo. A atividade
mental est� ali junto com a tranq�ilidade. Existe vitakka. Vitakka � a a��o de trazer a mente para o tema da
contempla��o. Se n�o existe muita aten��o plena, n�o haver� muito vitakka. Ent�o vicara, a contempla��o em torno daquele tema, segue. V�rias
impress�es mentais "mais fracas" podem surgir de tempos em tempos mas
a nossa autoconsci�ncia � o mais importante - n�o importa o que esteja
acontecendo n�s temos conhecimento dela continuamente. � medida que nos
aprofundamos estamos constantemente conscientes do estado em que se encontra a
nossa medita��o, sabendo se a mente est� ou n�o firmemente estabelecida. Dessa
forma, ambos, a concentra��o e a aten��o plena estar�o presentes.
Ter uma mente
tranq�ila n�o quer dizer que nada est� acontecendo, as impress�es mentais
continuam surgindo. Por exemplo, quando falamos sobre o primeiro n�vel de
absor��o, dizemos que ele possui cinco fatores. Juntamente com vitakka e vicara, piti (�xtase)
surge com o tema da contempla��o e depois sukha
(felicidade). Essas quatro coisas est�o todas juntas na mente que se firmou na
tranq�ilidade. Elas s�o como um estado �nico.
O quinto fator � ekaggata ou unifica��o da mente em um s�
ponto. Voc� deve estar perguntando a si mesmo como pode haver a unifica��o
quando tamb�m existem esses outros fatores. Isso ocorre porque eles ficam todos
unificados com base na tranq�ilidade. Juntos eles s�o chamados de o estado de samadhi. Eles n�o s�o estados do
cotidiano da mente, eles s�o fatores de absor��o. Existem essas cinco
caracter�sticas mas elas n�o perturbam a tranq�ilidade b�sica. Existe vitakka, mas ela n�o perturba a mente; vicara, �xtase e felicidade surgem mas
n�o perturbam a mente. Portanto, a mente e esses fatores est�o como se fossem
uma coisa s�. Assim � o primeiro n�vel de absor��o.
N�s n�o
precisamos cham�-lo de Primeiro Jhana,
[2] Segundo
Jhana, Terceiro Jhana e assim por diante, vamos cham�-lo simplesmente de ”uma mente
tranq�ila". Conforme a mente vai progressivamente se acalmando, ela ir�
dispensar vitakka e vicara, restando somente �xtase e felicidade.
Porque a mente descarta vitakka e vicara? A raz�o � porque a mente vai se
tornando mais refinada e a atividade de vitakka
e vicara � muito grosseira para que
possa permanecer. Neste est�gio, quando a mente abandona vitakka e vicara,
sentimentos de intenso �xtase podem surgir, l�grimas podem aflorar. Mas
conforme o samadhi se aprofunda, o
�xtase tamb�m � descartado, ficando somente a felicidade e a unifica��o da
mente em um s� ponto at� que finalmente, mesmo a felicidade se vai e a mente
atinge o ponto mais elevado de refinamento. Existe apenas equanimidade e
unifica��o da mente em um s� ponto, todo o demais foi deixado para tr�s. A
mente permanece im�vel.
Uma vez que a
mente esteja tranq�ila tudo isso pode acontecer. Voc� n�o precisa pensar muito
a respeito disso, isso acontece por si mesmo. A isto se chama de a energia de
uma mente tranq�ila. Nesse estado, a mente n�o est� sonolenta; os cinco
obst�culos, desejo sensual, avers�o, inquieta��o, torpor e d�vida, foram todos
embora.
Mas se a energia
mental n�o for forte o suficiente e a aten��o plena for fraca, ocasionalmente
surgir�o impress�es mentais intrusas. A mente est� tranq�ila mas � como se
houvesse uma "n�voa" dentro dessa tranq�ilidade. N�o � um tipo de
sonol�ncia comum no entanto, algumas impress�es ir�o se manifestar - talvez
ou�amos um som ou vejamos um cachorro ou outra coisa. N�o est� absolutamente
claro mas tamb�m n�o � um sonho. Isto ocorre porque os cinco fatores se
tornaram desequilibrados e fracos.
A mente tem a
tend�ncia de nos pregar pe�as nesses n�veis de tranq�ilidade.
"Imagens" podem surgir certas vezes quando a mente est� nesse estado,
atrav�s de qualquer um dos sentidos e o meditador poder� n�o ser capaz de
identificar o que exatamente est� acontecendo. "Estou dormindo? N�o. � um
sonho? N�o, n�o � um sonho…" Essas impress�es surgem a partir de um tipo
de tranq�ilidade m�dia; mas se a mente estiver verdadeiramente tranq�ila e
cristalina n�o teremos d�vidas acerca das v�rias impress�es mentais ou imagens
que surgirem. Quest�es como, "Eu fiquei � deriva? Eu estava dormindo? Eu
me perdi? " n�o surgem pois elas
s�o a caracter�stica de uma mente que ainda duvida. "Estou dormindo ou
acordado?"…Aqui est� confuso! Essa � a mente que est� ficando perdida nos
seus humores. � como a lua se escondendo atr�s de uma nuvem. Voc� ainda pode
ver a lua mas as nuvens que a cobrem fazem com que ela n�o possa ser vista com
clareza. N�o � como a lua que surgiu por detr�s das nuvens - clara, bem
definida e brilhante.
Quando a mente
est� tranq�ila e com a aten��o plena firmemente estabelecida, n�o haver� d�vida
em rela��o aos v�rios fen�menos que encontramos. A mente ter� verdadeiramente
superado os obst�culos. Conheceremos com clareza, como na verdade �, tudo
aquilo que surgir na mente. N�o teremos d�vida porque a mente est� clara e
luminosa. A mente que alcan�a o samadhi
� assim.
No entanto,
algumas pessoas t�m dificuldade de entrar em samadhi porque este n�o conv�m �s suas inclina��es. O samadhi existe mas n�o � forte ou firme.
Mas a pessoa pode alcan�ar a paz atrav�s da sabedoria, contemplando e vendo a
verdade das coisas, solucionando os problemas por esse caminho. Isto � a
utiliza��o da sabedoria ao inv�s do poder de samadhi. Para alcan�ar a tranq�ilidade na pr�tica, n�o � necess�rio
sentar em medita��o. Somente pergunte a si mesmo, "Ei, o que �
isso?…" e solucione o seu problema exatamente nesse momento! Assim � uma
pessoa s�bia. Talvez ela realmente n�o consiga atingir n�veis elevados de samadhi, embora ela desenvolva algo, o
suficiente para cultivar a sabedoria. � a diferen�a entre cultivar arroz e
cultivar milho. A pessoa pode depender mais de arroz do que milho para o seu
sustento. A nossa pr�tica pode ser assim, dependemos mais da sabedoria para
solucionar os problemas. Quando vemos a verdade, a paz surge.
As duas formas
n�o s�o iguais. Algumas pessoas possuem insight e s�lida sabedoria mas n�o
possuem muito samadhi. Quando elas
sentam para meditar elas n�o ficam muito tranquilas. Elas tendem a pensar
muito, contemplando isso ou aquilo at� que finalmente elas contemplam a
felicidade e o sofrimento e enxergam neles a verdade. Algumas se inclinam mais
para isso do que samadhi. Quer seja
em p�, caminhando, sentado ou deitado, [3] a ilumina��o do Dhamma poder� ocorrer.
Vendo e abandonando, elas alcan�am a paz. Elas alcan�am a paz conhecendo a
verdade sem ter qualquer d�vida, porque elas a viram por si mesmas.
Outras pessoas
possuem somente pouca sabedoria mas o seu samadhi
� bastante s�lido. Elas podem entrar em profundo samadhi rapidamente, mas n�o tendo muita sabedoria, elas n�o
conseguem agarrar as suas impurezas, elas n�o as conhecem. Elas n�o conseguem
resolver os seus problemas.
Mas
independentemente da abordagem que usemos, precisamos eliminar a maneira incorreta
de pensar, deixando ficar somente o Entendimento Correto. Precisamos eliminar a
confus�o, deixando somente a paz. De ambas maneiras chegaremos ao mesmo lugar.
Existem esses dois aspectos da pr�tica, mas essas duas coisas, tranq�ilidade e
insight, caminham juntas. N�o podemos eliminar nenhuma delas. Elas precisam ir
juntas.
Aquilo que
"inspeciona" os v�rios fatores que surgem na medita��o � 'sati',
aten��o plena. Sati � uma condi��o
que, atrav�s da pr�tica, pode auxiliar outros fatores a surgirem. Sati � vida. Sempre que n�o tivermos sati, quando formos desatentos, � como
se estiv�ssemos mortos. Se n�o temos sati,
ent�o o que falamos e fazemos n�o possui nenhum significado. Sati � simplesmente recorda��o. � a
causa do surgimento da autoconsci�ncia e sabedoria. Quaisquer virtudes que
tenhamos cultivado ser�o imperfeitas se lhes faltar sati. Sati � o que nos observa quando estamos em p�, caminhando,
sentados e deitados. Mesmo quando n�o estamos mais em samadhi, sati deveria estar sempre presente.
Tomamos cuidado
com qualquer coisa que fa�amos. Uma sensa��o de vergonha [4] ir� surgir. Ficaremos envergonhados
das coisas que fazemos e que n�o s�o corretas. Conforme a vergonha aumenta, o
nosso auto controle tamb�m aumenta, quando o nosso autocontrole aumenta a
desaten��o ir� desaparecer. Mesmo que n�o sentemos em medita��o, esses fatores
estar�o presentes na mente.
E isto surge
devido ao fato de cultivarmos sati.
Desenvolva sati! Esse � o dhamma que inspeciona o trabalho
que estamos fazendo ou que fizemos no passado. Ele tem utilidade. Devemos nos
conhecer o tempo todo. Se nos conhecermos dessa forma, o certo ir� se
distinguir do errado, o caminho ir� se tornar claro e o motivo para toda a
vergonha ir� se dissolver. A sabedoria ir� surgir.
Podemos resumir toda a pr�tica em virtude, concentra��o e sabedoria. Ter autocontrole, isso � virtude. O firme estabelecimento da mente dentro desse controle � concentra��o. Para completar, o conhecimento amplo dentro da atividade na qual estamos engajados � sabedoria. A pr�tica, em resumo, � apenas virtude, concentra��o e sabedoria ou em outras palavras, o caminho. N�o existe outra alternativa.
1. Samadhi � o estado de tranq�ilidade
com concentra��o que resulta da pr�tica de medita��o. [Retorna]
2. Jhana � um estado avan�ado de concentra��o ou samadhi, em que a mente fica absorvida pelo seu objeto de
medita��o. Ele est� dividido em quatro n�veis, cada um progressivamente mais
refinado que os anteriores. [Retorna]
3. Isto �, todo o tempo, em todas atividades. [ Retorna]
4. Esta � uma "vergonha" que tem como base o conhecimento da lei de
causa e efeito, ao inv�s do mero sentimento de culpa. [ Retorna]