The Teachings of Ajahn Chah
A collection of Ajahn Chah's translated Dhamma talks
Voc�s devem
entender o "Caminho �ctuplo" como sendo virtude, concentra��o e
sabedoria. O caminho � simplesmente isso. A nossa pr�tica consiste em fazer com
que esse caminho se desenvolva dentro de n�s.
Quando sentamos
em medita��o nos dizem para fechar os olhos, n�o olhar para nada mais porque
agora iremos olhar diretamente para a mente. Quando fechamos os nossos olhos, a
nossa aten��o se volta para dentro. Estabelecemos nossa aten��o na respira��o,
centralizamos ali as nossas sensa��es, colocamos ali a nossa aten��o plena.
Quando os elementos do caminho estiverem em harmonia seremos capazes de ver a
respira��o, as sensa��es, a mente e os seus humores da forma como realmente
s�o. Aqui veremos o "ponto de foco", para onde samadhi e os demais elementos do Caminho convergem em harmonia.
Quando estiverem
sentados em medita��o, seguindo a respira��o, pensem consigo mesmo que agora
voc�s est�o sentados sozinhos. N�o existe ningu�m sentado � sua volta, n�o
existe nada mais. Desenvolvam essa pensamento de que voc�s est�o sentados
sozinhos at� que a mente solte de tudo que � externo, concentrando-se somente
na respira��o. Se voc�s estiverem pensando, "Esta pessoa est� sentada
aqui, aquela pessoa est� sentada ali", n�o haver� paz, a mente n�o vem
para dentro. Simplesmente coloquem tudo isso de lado at� que voc�s sintam que
n�o existe ningu�m sentado a sua volta, at� que n�o exista nada mais, at� que
voc�s n�o tenham nenhuma hesita��o ou interesse naquilo que est� a sua volta.
Deixem que a
respira��o flua com naturalidade, n�o a force para que seja curta, longa ou o
que quer que seja, simplesmente fiquem sentados e observem ela entrar e sair.
Quando a mente se solta de todas as sensa��es externas, os ru�dos de carros e
outros barulhos n�o ir�o perturb�-los. Nada, quer sejam vis�es ou sons, ir�
perturbar, porque a mente n�o os estar� recebendo. A sua aten��o estar�
concentrada na respira��o.
Se a mente est�
confusa e n�o se concentra na respira��o, inspirem fundo, o mais fundo que
voc�s puderem e depois expirem at� que n�o reste nada. Fa�am isso tr�s vezes e
depois re-estabele�am a sua aten��o. A mente ir� se acalmar.
� natural que ela
se acalme durante algum tempo e que depois a inquieta��o e a confus�o possam
surgir outra vez. Quando isso acontecer, concentrem-se, respirem fundo outra
vez e depois re-estabele�am a sua aten��o na respira��o. Continuem fazendo
isso. Quando houver ocorrido isso algumas vezes, voc�s se tornar�o peritos
nisso, a mente ir� se soltar de todas as manifesta��es externas. Impress�es
externas n�o ir�o atingir a mente. Sati estar� firmemente estabelecido. � medida
que a mente for ficando mais sutil, assim tamb�m a respira��o. As sensa��es
ir�o ficar cada vez mais sutis, o corpo e a mente ficar�o leves. A nossa
aten��o estar� somente no que � interno, veremos a inspira��o e a expira��o
claramente, veremos todas as impress�es claramente. Veremos a Virtude,
Concentra��o e Sabedoria se unindo. A isto se denomina o Caminho em harmonia.
Quando existe harmonia a nossa mente ficar� livre da confus�o, estar�
unificada. A isto se denomina samadhi.
Ap�s observar a
respira��o por um longo tempo, ela pode se tornar bastante sutil, a aten��o na respira��o
ir� cessar gradualmente, restando somente a aten��o pura. A respira��o pode
ficar t�o sutil que desaparecer�! Talvez estejamos "apenas sentados",
tal como se n�o houvesse respira��o. Na verdade existe a respira��o mas a
impress�o � de que ela n�o existe. Isto ocorre porque a mente atingiu o seu
estado mais sutil, existe somente a aten��o pura. Ela foi al�m da respira��o. O
conhecimento de que a respira��o desapareceu se torna estabelecido. O que
tomaremos agora como objeto de medita��o? Tomamos esse conhecimento como nosso
objeto, isto �, a consci�ncia de que n�o existe respira��o.
Coisas
inesperadas podem acontecer neste momento; algumas pessoas as experimentam,
outras n�o. Se elas surgirem, devemos ser firmes e manter uma s�lida aten��o
plena. Algumas pessoas v�m que a respira��o desaparece e ficam com medo, elas
temem que possam morrer. Nesse caso devemos entender a situa��o apenas pelo que
ela �. N�s simplesmente notamos que n�o h� respira��o e tomamos isso como
objeto da nossa aten��o. Esse, podemos dizer, � o tipo de samadhi mais firme e mais seguro. Existe somente um estado da
mente, firme e im�vel. Talvez o corpo se torne t�o leve que � como se n�o
houvesse corpo. Sentimos como se estiv�ssemos sentados em um espa�o vazio, tudo
parece vazio. Embora isso possa parecer muito estranho, voc�s devem entender
que n�o existe motivo para se preocupar. Estabele�am a sua mente firmemente
dessa forma.
Quando a mente
est� firmemente unificada, e j� n�o � perturbada por impress�es dos sentidos, a
pessoa pode permanecer nesse estado pelo tempo que quiser. N�o haver�o
sensa��es dolorosas que a perturbem. Quando o samadhi atingiu esse n�vel, poderemos deix�-lo quando quisermos,
por�m se deixarmos esse samadhi o
faremos de maneira confort�vel, n�o porque ficamos entediados ou cansados. N�s
o deixamos porque estamos satisfeitos por agora, nos sentimos relaxados, sem
nenhum tipo de problema.
Se podemos
desenvolver esse tipo de samadhi, e nos sentarmos, digamos, trinta minutos ou
uma hora, a mente estar� relaxada e calma por muitos dias. Quando a mente est�
assim relaxada e calma, ela est� limpa. Tudo aquilo que experimentarmos, a
mente ir� tomar e investigar. Esse � um fruto do samadhi.
A virtude possui
uma fun��o, a concentra��o possui outra fun��o e a sabedoria outra. Esses
elementos s�o como um ciclo. Podemos v�-los todos dentro de uma mente
tranq�ila. Quando a mente est� calma ela possui modera��o e autocontrole devido
� sabedoria e a energia da concentra��o. � medida em que ela fica mais
controlada ela se torna mais sutil, o que por conseguinte d� for�a para que a
virtude incremente a sua pureza. Na medida em que a virtude se purifica, isso
auxilia no desenvolvimento da concentra��o. Quando a concentra��o est�
firmemente estabelecida ela auxilia o surgimento da sabedoria. Virtude,
concentra��o e sabedoria se auxiliam mutuamente, elas est�o inter-relacionadas
dessa forma. No final o Caminho se converte em um s� e opera todo o tempo.
Devemos buscar a for�a que se origina do caminho, porque � a for�a que conduz
ao Insight e Sabedoria.
* * *
Os Perigos do
Samadhi
Samadhi � capaz de trazer muito dano ou muito benef�cio para o meditador, n�o �
poss�vel dizer que somente traga um ou outro. Para aquele que n�o possui sabedoria,
ele � prejudicial mas, para aquele que possui sabedoria ele pode trazer um
benef�cio real, pode conduzi-lo ao Insight.
Aquilo que pode
ser mais prejudicial ao meditador � o Samadhi
da Absor��o (Jhana), o samadhi com profunda e sustentada tranq�ilidade.
Esse samadhi traz imensa paz. Onde existe paz existe a felicidade. Quando
existe a felicidade, o apego, a uni�o a essa felicidade surgem. O meditador n�o
quer contemplar nada mais, ele quer somente desfrutar dessa sensa��o agrad�vel.
Ap�s termos praticado por um longo tempo poderemos ter a habilidade de entrar
nesse samadhi muito rapidamente. Assim que come�amos a
notar o nosso objeto da medita��o, a mente fica tranq�ila e n�s n�o queremos
sair para investigar nada mais. N�s ficamos grudados nessa felicidade. Esse �
um perigo para quem pratica a medita��o.
Nesse caso
precisamos usar Upacara Samadhi.
Aqui, penetramos a tranq�ilidade e ent�o, quando a mente estiver
suficientemente tranq�ila, sa�mos e olhamos para a atividade externa. [5] Olhando para o exterior com a mente
tranq�ila faz surgir a sabedoria. � dif�cil de entender isso, porque � quase o
mesmo que pensar e imaginar. Quando o pensamento est� presente, podemos pensar
que a mente n�o est� tranq�ila, mas na verdade esse pensamento est� ocorrendo
dentro da tranq�ilidade. Existe a contempla��o mas ela n�o perturba a
tranq�ilidade. Podemos trazer o pensamento para contempl�-lo. Nesse caso
tomamos o pensamento para investig�-lo mas n�o � que estejamos pensando em investig�-lo
a esmo, nem que estejamos pensando ou imaginando a esmo; � algo que surge da
mente que est� tranq�ila. A isto se denomina "aten��o dentro da calma e
calma com aten��o". Se for simplesmente o pensamento e imagina��o normais,
a mente n�o ficar� tranq�ila, ela ficar� perturbada. Mas eu n�o estou falando
do pensamento comum, essa � uma sensa��o que surge da mente tranq�ila. Se chama
"contempla��o". � exatamente a� que nasce a sabedoria.
Portanto, pode
haver o samadhi correto e o samadhi incorreto. O samadhi incorreto se
d� quando a mente penetra a tranq�ilidade e n�o existe absolutamente nenhuma
aten��o. A pessoa pode ficar sentada por duas horas ou mesmo todo o dia mas a
mente n�o sabe onde esteve ou o que aconteceu. N�o sabe de nada. Existe a
tranq�ilidade, mas isso � tudo. � tal como uma faca muito bem afiada que n�o
nos damos ao trabalho de usar para nada. Esse � um tipo de tranq�ilidade
enganoso porque n�o existe muita autoconsci�ncia. O meditador pode pensar que
j� alcan�ou o ponto m�ximo e por isso n�o se preocupa em procurar por algo
mais. Samadhi pode ser um inimigo
nesse ponto. A sabedoria n�o � capaz de surgir porque n�o existe consci�ncia do
que � certo ou errado.
Com o samadhi correto, n�o importa o n�vel de
tranq�ilidade que seja alcan�ado, existe consci�ncia. Existe aten��o plena e
plena consci�ncia. Esse � o samadhi que
pode fazer surgir a sabedoria, ningu�m se perde nele. Os praticantes devem
entender isto muito bem. Voc� n�o deve ficar sem essa consci�ncia, ela deve
estar presente do come�o ao fim. Esse tipo de samadhi n�o apresenta nenhum perigo.
Voc�s devem estar
se perguntando, de onde surge o benef�cio, como surge a sabedoria, do samadhi? Quando o samadhi correto foi desenvolvido, a sabedoria tem a possibilidade
de surgir em todos os momentos. Quando o olho v� uma forma, o ouvido ouve um
som, o nariz cheira um aroma, a l�ngua experimenta um sabor, o corpo
experimenta o toque ou a mente experimenta objetos mentais - em todas as
posturas - a mente permanece com pleno conhecimento da verdadeira natureza
dessas impress�es sensuais, ela n�o � seletiva. Em qualquer situa��o estamos
plenamente atentos ao surgimento da felicidade e da infelicidade. N�s nos
soltamos de ambas coisas, n�o nos apegamos. A isto se denomina a Pr�tica
Correta, que est� presente em todas as posturas. Essas palavras "todas as
posturas" n�o se referem somente a posturas do corpo, elas se referem �
mente, que possui aten��o plena e plena consci�ncia da verdade durante todo o
tempo. Quando samadhi foi
desenvolvido corretamente, a sabedoria surge dessa forma. A isto se denomina
"insight," o conhecimento da verdade.
Existem dois
tipos de paz - a grosseira e a refinada. A paz que surge de samadhi � do tipo grosseira. Quando a
mente est� tranq�ila existe a felicidade. A mente ent�o assume que essa
felicidade � a paz. Mas a felicidade e a infelicidade s�o o devir e o
nascimento. N�o existe escapat�ria do samsara
[6
] nesse
caso porque ainda temos apego. Dessa forma a felicidade n�o � paz, a paz n�o �
felicidade.
O outro tipo de paz � aquele que surge da sabedoria. Nesse caso n�o confundimos a paz com a felicidade; conhecemos a mente que contempla e que conhece a felicidade e a infelicidade como sendo paz. A paz que surge da sabedoria n�o � a felicidade, mas � aquela que v� a verdade de ambas, a felicidade e a infelicidade. O apego a esses estados n�o surge, a mente se eleva acima deles. Esse � o verdadeiro objetivo de toda a pr�tica Budista.
5. "Atividade externa" se refere a todas as impress�es sensuais. � usada
em contraste a "atividade interna" do samadhi de absor��o (jhana), em que a mente n�o "sai" em busca das impress�es sensuais externas. [Retorna]
6. Samsara, a roda do Nascimento e
Morte, � o mundo de todos os fen�menos condicionados, mentais e materiais, que
possuem as tr�s caracter�sticas de imperman�ncia, insatisfat�rios e n�o-eu. [Retorna]